BASTA - 1º PASSO

  Gritou alto e forte : Basta! Se aproximou com o olhar fixo e enraivecido. Olhava no fundo assustado com a força e a brutalidade daquela expressão, sabia que  era sério, não mais uma briguinha qualquer, teve a sensação de que sua barriga congelava num medo que jamais sentira, sabia que estava perdendo as rédeas da situação que levara anos para edificar, com sabotagens, chantagens, ilusões e uma puta e falsa  sensação de bem estar.
  O que levara de uma hora para outra a quebra daqueles grilhões? Há muito no fundo, ela sabia de tudo que se passava, que era refém , mas, mesmo assim era cômodo, conveniente e dolorosamente agradável.
  Ultimamente, porém, o prazer havia se transformado em dor profunda e persistente. E ao se olhar no espelho via apenas uma massa grotesca, disforme e sem vida própria, resolveu então reagir, gritando num primeiro momento, alto e forte para que sua vontade ficasse clara e toda raiva e frustração contida por tantos anos, surgiram numa expressão e romperam pelos olhos.
  E lá na frente do espelho, nua aquela mulher se rendia a força de sua batalha e tentava  encontrar uma forma de transformar aquela massa disforme, por tantos anos sabotada, em uma nova imagem e até quem sabe no que fora antigamente: ágil, vivaz e feliz.